Como a tecnologia está transformando os rejeitos da mineração em novos produtos
04 Dez 2025
A mineração está em constante evolução. Tecnologias que antes pareciam distantes já fazem parte do dia a dia das empresas, reduzindo impactos e transformando materiais que antes eram descartados, como rejeitos e estéreis, em produtos úteis para a sociedade.
Hoje, já é possível produzir areia, blocos modulares, pavimentos, agregados para construção, e até materiais que substituem parte do cimento. Tudo isso nasce de processos mais modernos e de novas formas de reaproveitar o que antes ficava parado em barragens ou pilhas de rejeito.
Tecnologias que reduzem desperdícios e criam novas oportunidades
Uma das principais inovações no processamento do minério é o beneficiamento a umidade natural. Nesse modelo, o minério passa por etapas de britagem e peneiramento sem adição de água, o que reduz a geração de rejeitos na forma de lama e diminui a necessidade de barragens.
Outro exemplo é o empilhamento a seco, conhecido como dry stacking.
Nessa técnica, os rejeitos passam por filtros que retiram grande parte da água e deixam o material em forma sólida. Esse formato facilita o empilhamento em áreas seguras e, em alguns casos, permite o reaproveitamento em melhorias de vias internas ou estradas próximas às minas
Além disso, pesquisas testam o uso de nanomateriais, como a nanocelulose, para aumentar a resistência e a durabilidade de produtos produzidos a partir de rejeitos. Essas inovações ajudam a criar blocos, pisos e outros materiais de construção com menor impacto ambiental.
Por que isso é importante?
Especialistas explicam que transformar rejeitos em novos produtos faz parte da chamada economia circular.
Isso significa reaproveitar ao máximo tudo o que já foi extraído, reduzindo o desperdício e prolongando a vida útil dos recursos naturais.
Essa prática traz benefícios como:
- Menos impacto ambiental;
- Menor necessidade de construir barragens e menos risco para comunidades próximas, compreendendo-se que circularidade não elimina automaticamente riscos ou barragens. Ela reduz volumes, o que tende a reduzir riscos;
- Novas fontes de receita para as empresas;
- Redução de custos e mais eficiência.
Como explica Mariana Lamarca, diretora sênior da A&M Infra, essa combinação entre inovação e circularidade representa uma “dupla oportunidade”: diminuir passivos antigos da mineração e gerar novos negócios a partir deles.
Ela lembra ainda que muitos rejeitos guardam pequenas quantidades de minerais que, no passado, não compensavam ser recuperados. Com a tecnologia atual, isso já está mudando.
Circularidade: um caminho apontado pelo IBRAM
O Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM) reforça essa visão em seu guia sobre mineração circular. No documento, o Instituto destaca que, com o aumento da população e as mudanças globais na energia, a demanda por minerais vai crescer. Por isso, usar os recursos de forma eficiente é essencial.
A mineração circular busca equilibrar três pontos:
- Inovação;
- Sustentabilidade;
- Eficiência operacional.
A meta é gerar valor para o país e, ao mesmo tempo, reduzir impactos ambientais e sociais.
Casos reais: o que as empresas já estão fazendo
Várias empresas brasileiras já colocam essas ideias em prática. Veja alguns exemplos:
Vale: mais de cem iniciativas de reaproveitamento
A Vale criou um grande programa dedicado à circularidade.
Entre as ações estão:
- Transformação de rejeitos em areia e blocos;
- Aproveitamento de minério que já estava em pilhas e barragens;
- Redução da geração de rejeitos novos
Em 2024, a empresa produziu 12,7 milhões de toneladas de minério a partir de processos circulares. A meta para este ano é chegar a 20 milhões de toneladas, e, até 2030, alcançar 10% de toda a produção por meio de circularidade.
Segundo o vice-presidente executivo técnico, Rafael Bittar, alguns rejeitos da companhia ainda têm entre 40% e 60% de ferro, o que facilita o reaproveitamento.
Ele explica também que cerca de 70% da produção de minério de ferro da Vale no Brasil já usa o processamento a umidade natural, que não gera rejeitos na forma de lama. Até 2027, a empresa quer usar essa tecnologia em 100% das operações do Sistema Norte.
Em 2024, a empresa investiu US$ 790 milhões em pesquisa e inovação.
Grupo J. Mendes: rejeitos viram blocos modulares
A Ferro+ e a JMN Mineração, do Grupo J. Mendes, trabalham com tecnologias que dispensam barragens.
Esse modelo aumenta a segurança e abre espaço para o reaproveitamento do material.
Uma parceria com a empresa Isobloco permitiu criar um bloco modular feito a partir de rejeitos minerais. Esses blocos usam um tipo de concreto chamado “nanocelular”, que deixa o material:
- Mais resistente
- Antimofo
- Isolante térmico e acústico
- Resistente ao fogo.
Em 2024, o grupo investiu R$ 1,3 milhão em inovação para desenvolver novos subprodutos.
Anglo American: pavimentação com rejeitos
A Anglo American usa rejeitos de flotação, o que sobra após separar os minerais, para produzir bloquetes de pavimentação usados em vias de acesso a municípios próximos à mina em Conceição do Mato Dentro (MG).
Segundo a empresa, é uma alternativa mais sustentável e totalmente alinhada à economia circular.
CBA: resíduos que viram produtos
A Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) também transforma resíduos da produção em coprodutos usados na construção civil, na indústria cimenteira e na metalurgia.
A empresa afirma que 48% de seus resíduos já são classificados como coprodutos e que a receita obtida com essa venda cresceu 30,7% no último ano.
O futuro já começou
O avanço das tecnologias, a pressão por sustentabilidade e as novas demandas da sociedade estão acelerando a transformação do setor mineral. O que antes era visto como sobras sem valor agora se torna oportunidade de inovação, renda e menor impacto ambiental.
A mineração do futuro é circular, e ela já está acontecendo no Brasil.
Fonte: https://valor.globo.com/publicacoes/especiais/revista-inovacao/noticia/2025/11/28/mineracao-redefine-seu-futuro-com-solucoes-de-processamento-de-rejeitos-que-geram-produtos.ghtml









