Iniciativa de reciclagem permite produção de milhares de peças úteis e sustentáveis, geração de renda e economia de recursos hídricos.

O Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM) tem se destacado na promoção de boas práticas, inovação e fortalecimento das relações entre mineradoras e diversos públicos, como profissionais do setor, fornecedores, governo e sociedade. Com essa missão em mente, o IBRAM firmou uma parceria estratégica com a Libertese Confecções, um negócio de impacto social que, desde 2013, tem transformado a vida de mulheres privadas de liberdade por meio do trabalho e da inclusão social.

Detentas da Penitenciária Estevão Pinto moda participam de projeto da Libertese. FOTO: Mariela Guimaraes

Segundo Marcella Mafra, fundadora da Libertese, a marca busca a reintegração da mulher ao mundo do trabalho, por meio do emprego ou do empreendedorismo. “Começamos dentro de uma penitenciária feminina, na cidade de Belo Horizonte, para atuar na capacitação em costura industrial e no acompanhamento do desenvolvimento e formação integral de detentas. De lá para cá, mais de 100 já foram impactadas pela iniciativa”, explica.

Por meio de um termo de cooperação técnica com o Estado de Minas Gerais e o Complexo Penitenciário Feminino Estevão Pinto, em Belo Horizonte, a Libertese realizava um projeto de cunho social, que permitia a comercialização de produtos, como brindes corporativos, uniformes e costura de peças de moda para marcas importantes de Belo Horizonte,  tornando a empresa autossustentável.

As mulheres eram remuneradas mensalmente pela Lei de Execução Penal (7.210/84, artigo 29), dividida em 25% para pecúlio, 50% para uso imediato e 25% para o Estado. Este modelo permitia que elas contribuíssem financeiramente para suas famílias e para o próprio Estado, promovendo dignidade e respeito.

Impacto positivo

Participantes do projeto ressignificam 875 quilos de uniformes não mais utilizados pela indústria mineral. Foto: Mariela Guimarães

Entre junho de 2023 e janeiro de 2024, a parceria entre o IBRAM e a Libertese Confecções gerou uma renda de R$ 52.334,00 para as mulheres egressas, o que também representou a ressignificação de 875 quilos de uniformes não mais utilizados pela indústria – eles foram transformados em 2.334 peças, sendo 7 mil ecobags, todos produtos novos, úteis e sustentáveis.

Além disso, pela reutilização e reciclagem de materiais, estima-se que foram economizados aproximadamente 11.670.000 litros de água. Esse número sublinha a importância de práticas sustentáveis na preservação dos recursos naturais.

Para o IBRAM, os resultados alcançados demonstram que é possível gerar valor econômico aliado a benefícios ambientais e sociais significativos.  Essa parceria é um marco importante para o Instituto, pois mostra que é possível unir competitividade empresarial e responsabilidade social. É uma demonstração clara de como a indústria mineral pode contribuir para a transformação social e a sustentabilidade.

Transformação

Em 2017, a Libertese começou a acompanhar 19 mulheres, que cumpriram a pena, receberam a liberdade e seguem a vida de forma diferente. “Desse grupo, todas estão trabalhando com carteira assinada ou empreendendo. Pode parecer pouco em relação ao número de mulheres que já passaram pela Libertese, mas em relação à realidade da reincidência geral das mulheres ao mundo do crime, que é de 32%, o da Libertese é zero”, comemora Mafra.

Com a pandemia da Covid-19, em 2020 a empresa acabou tendo suas ações paralisadas, considerando que a entrada nas penitenciárias e o contato com as detentas foram proibidos. Este período de parada forçada foi utilizado para amadurecer a ideia da futura retomada das atividades, mas, dessa vez, com as mulheres egressas do sistema prisional. “Hoje, então, a Libertese realiza os trabalhos com essas mulheres, cada uma costurando dentro das suas casas, sendo remuneradas de forma justa e transparente”.

Parceria com o IBRAM

A parceria com o IBRAM começou em 2022, quando a Libertese recebeu o pedido para a confecção de egobags. “Confeccionar ecobags já fazia parte dos produtos confeccionados.  Mas, o mais legal é que foi a primeira vez que a Libertese havia recebido um pedido para ressignificar os refugos de uniformes da indústria, transformando em ecobags. Isso pra mim foi um marco”, disse Mafra.

Nessa ocasião, a Libertese possuía uma estrutura externa, em um espaço cedido, para trabalhar com mulheres do regime semiaberto e egressas do sistema prisional e mulheres com outras vulnerabilidades sociais.

Em 2023, a Libertese confeccionou as ecobags para a Conferência Internacional Amazônia e Novas Economias, promovida pelo IBRAM. “Esse trabalho foi puro desafio e amor. Novamente confeccionadas com o refugo dos uniformes, a costura foi feita pelas mulheres que passaram pela Libertese enquanto reclusas e fazem parte dessas 19 mulheres que recomeçaram a sua história. Orgulho demais!”, declarou Marcella Mafra.

Diferente de uma ONG que se mantém com doações, a Libertese, para continuar a ampliar seu impacto positivo, precisa de clientes que contratem seus produtos e serviços. “Eu sempre acreditei em trabalho coletivo e colaborativo onde todos sejam beneficiados. É uma forma de  garantir a perenidade do nosso negócio e  a ampliação do impacto positivo e a transformação da vida das mulheres”, avaliou.

Marcella Mafra já tem planos. “Desejamos replicar a tecnologia social desenvolvida, ultrapassando as fronteiras da penitenciária para abranger outras mulheres em vulnerabilidade e risco, seja em comunidades periféricas ou em localidades em torno das indústrias”.

Esta parceria reforça a importância de iniciativas colaborativas. O IBRAM informa que continuará a trabalhar para fortalecer essas relações e fomentar um setor mineral mais responsável, sustentável e inclusivo. Essa colaboração exemplifica a busca contínua por articular oportunidades de desenvolvimento e difundir boas práticas entre os associados, conectando empresas e incentivando práticas inovadoras e sustentáveis.